Resenha: Detonautas Roque Clube - A saga continua

Estava eu, vagando pela internet ouvindo o som dos caras e resolvi procurar uma resenha justa e realista sobre o novo álbum do detonautas, achei essa no portal PlayStorm (ótimo portal por sinal!, vai de noticias do rock a coisas de videogames), confira oque foi postado pelo site logo a baixo.
Os Detonautas são uma banda formada por amigos “virtuais” que se conheceram em salas de bate-papo na internet. O grupo fez muito sucesso no começo dos anos 2000, especialmente com a trinca “Quando o sol se for”, “Outro lugar” e “Olhos certos”.
A banda continua na estrada até hoje: se a projeção do grupo no cenário musical brasileiro não é mais aquela, o mesmo não podemos dizer a respeito do vocalista, Tico Santa Cruz. Tico é engajado em questões políticas e sociais e grande formador de opinião, no que diz respeito a redes sociais: sua fã Page possui mais de 700 mil seguidores e ali, ele divide seus posicionamentos, crenças e inquietudes com seguidores ardorosos por suas palavras.
Sou um desses seguidores: ora concordo, ora discordo do que é dito por ele, mas uma coisa é certa: ele sabe se expressar e sabe o seu lugar nesse universo digital repleto de pluralidades.
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Mas o assunto aqui não é Tico Santa Cruz: vamos falar do novo disco da banda, “A Saga Continua”, o primeiro álbum de estúdio da banda desde 2008. Trata-se de um álbum duplo, algo bastante ousado para os dias de hoje. E não existe maneira melhor de analisar um disco do que falando de cada uma das faixas. E é o que vamos fazer agora!

DISCO UM – UM FLERTE COM OS ANOS 80.

O próprio Santa Cruz disse em sua fã page que os discos se diferem entre si no formato: o disco um é mais leve e o dois, mais pesado.
Notei outra característica interessante no primeiro disco: ele é bem anos 80! Durante a primeira audição, me lembrei da Legião Urbana, do Barão de Frejat e de Cazuza, dos Paralamas e de todo o cenário daquela época. Acho que o disco deixa bem claro o quanto esses trabalhos influenciaram as composições da banda. Vamos então ao faixa-a-faixa:
  1. Vamos Viver: Como encarar a vida e o tempo que temos para vivê-la? Esse é o questionamento que define a letra da primeira música. Em sua forma, ela me lembrou um pouco o Barão de Frejat em alguns momentos. Queria ter ouvido a guitarra solo um pouco mais alta – se eu fosse o produtor né, poderia ter dado essa sugestão. Lançada como single em 2012.
  2. Essa noite: Parece que o cara da primeira música fez valer seus conselhos. Nesta temos o personagem um pouco mais desligado da vida, dando importância ao que realmente deve ser dado. A levada é pop, boa. A guitarra ainda está um pouco baixa, mas soa bem melhor colocada aqui.  A letra cai em um simplismo exagerado em alguns momentos. Lançada como single em 2013.
  3. Hello Hello: Um começo meio Led Zeppelin, uma forma de ser extremamente Beatles (ou Skank tentando ser Beatles). Tico ousa ao cantar mais alto do que pode e empregar um nítido e competente falsete. Como eu gosto de Beatles, ouvi várias vezes. A mudança de acordes a partir do primeiro minuto (algo bem Beatles também) me agradou bastante. Hello seria uma referência ao ex-baixista Tchello?
  4. Quem é você: Lançada como single em 2012, ganhou bastante notoriedade durante os protestos de 2013 – protestos estes em que Tico se envolveu de forma bastante contundente. Flerta com o Rap e cumpre um papel competente de “música protesto”.
  5. Sabemos fingir: Uma nova fincada de pé nos anos 80, mas com a cara da banda. A mixagem é conservadora, apropriada para o primeiro disco que é “leve”.  Lançada como single / EP em 2011.
  6. Um cara de sorte: Me lembrou bastante o Cazuza. O instrumental desta vez me agradou bastante (em termos de mixagem). Fala de luta, não contra o sistema, mas contra si mesmo. Lançada como single / EP em 2011.
  7. Sempre brilhará: Bela introdução. Música bem alegre, pra cima. Achei os vocais do Santa Cruz bem despojados aqui, que se alternam entre momentos de ousadia (quando canta rasgado) e momentos de descompromisso (quando a afinação parece cair um pouco). O defeito é que a música é muito longa, algo desnecessário – mas aceitável – em um disco duplo.
  8. Quem vai decidir: O amor é o tema dessa música lenta, acústica em sua essência, quase um reggae. Melhor do primeiro disco (na minha opinião). Para os apaixonados.
  9. É problema meu: A mais pesada do primeiro disco. Letra simples demais, não me agradou muito. Um excesso a lá Revolution #9, típico de discos duplos.

DISCO DOIS – FAIXAS MAIS PESADAS

  1. Seja forte pra lutar: Uma montanha russa entre protestos, auto reflexão, mudanças de ritmo, fé, orações e palavrões. É uma música interessante, começa pesada e fica mais calma no segundo minuto. No retorno ao peso da faixa, uma explosão de palavras que fazem deste momento o melhor do disco: Tiro, porrada e bomba (e um vtnc fdp na sequência) e um fechamento magistral com um Pai-Nosso (oi Metallica).
  2. 4 Ever Alone: Bastante pesada em sua forma, é um manifesto da geração mimimi que não sabe direito o que quer e pelo que lutar ou protestar. Não poderia ter um título mais adequado. Lançada como single em 2013.
  3. Combate: Aqui um bom dueto de guitarras, uma faixa bem pesada. Parece algo meio na linha “Tropa de Elite” da sociedade, uma convocação para a luta. Uma resposta à faixa anterior, com certeza. Enquanto um não sabe pelo que lutar, o outro lhe dá o estímulo e motivos necessários. Lançada como single / EP em 2011.
  4. O Alienista: Letra elaborada, ótimo momento do disco. O que de fato é real e o que é ilusório; do que realmente precisamos? Criamos personagens para o que? O resultado disso tudo é um surto de amoralidade? Foram os questionamentos que me ocorreram ao prestar atenção à letra. Lançada como single em 2013.
  5. Acredite no seu coração: Outra com muito potencial para single (e de fato, tem tanto potencial que foi lançada como, hahahaha). Melhor música do disco, em termos de produção. As guitarras voltam à grande forma, o mesmo digo da bateria.
  6. Sexo Tântrico: Música gratuita, desnecessária, fora de lugar. Aqui temos um personagem “pica das galáxias” que come todo mundo. Uma ode à infidelidade e ao amoralismo. Não combina muito com o Tico que conhecemos. Talvez seja uma forma de protestar contra o triste retrato da sociedade atual, onde casualidade se sobrepõe a relacionamentos sérios. De qualquer forma, achei gratuita.
  7. Conversando com o Espelho: Faixa pesada, me parece uma resposta ao personagem da música anterior. Também é autobiográfica, parece que estamos vendo o Tico Santa Cruz conversando consigo mesmo sobre seus posicionamentos e a validade do seu lado ativista de ser. Lançada como single / EP em 2011.
  8. Tudo vai melhorar: Letra romântica, roupagem pesada. Potencial para single. Tem uma coisa meio Pitty de ser.
  9. Sua alma vai vagar por aí: Fecha o disco de forma magistral. Pesada em formato e temática, aborda temas pesados como o uso de drogas e tem uma participação pra lá de especial da galera do Cone Crew Diretoria. Lançada como single / EP em 2011.

 PITACO FINAL

Não é um álbum perfeito, algumas músicas podem ser questionáveis para alguns, mas ele tem seus ótimos momentos. Em termos de produção, ele oscila bastante, mas é um trabalho contundente e bastante honesto no que diz respeito ao Rock nacional.
Torço pelo Detonautas, torço pelo Tico Santa Cruz, e, sobretudo, torço para que o Rock Nacional volte aos seus tempos áureos. Infelizmente, estamos longe disso, mas quem sabe “A Saga Continua” não seja um ponto de partida?