Para início de conversa, eu não sou um fã (no sentido literal) da banda, mas acompanho o trabalho deles desde a estreia, com o álbum homônimo, lá em 2002, o que torna a review até mais sincera. E ao meu ver, uma das coisas que vem marcando o 30 Seconds to Mars em uma década, é sua constante dedicação para o declínio sonoro causado pela autossabotagem, e ainda assim, seguem endeusados por aí. O primeiro álbum, até mesmo por ser despretensioso, é fantástico, repleto de músicas de rock arrasadoras e que davam a esperança de um futuro longínquo e satisfatório, assim como o segundo, "A Beautiful Lie" (2005), que embora comece a ensaiar novidades sonoras, inicia essa questão épica que a banda tanto adora hoje em dia. O seguinte, "This is War" (2009), já nos deu uma nova amostra, experimentações ainda que cruas, já perceptíveis, então, levando-os a ficar ainda mais conhecidos, vencendo inúmeras premiações e, consequentemente, agradando ao público, até chegar na mais arrogante e arriscada das propostas.
Com seu quarto álbum de estúdio, o "Love Lust Faith + Dreams", a banda do também ator, Jared Leto, em parceria com seu irmão e baterista, Shannon Leto e o guitarrista, Tomo Milicevic, toma um caminho perigoso e porque não, ousado, para a experimentação eletrônica em quase todas as faixas. Não que sejam terríveis (tá, algumas até são), mas a impressão que fica, é a de um álbum completamente enfadonho e que poderia ser mais do que é, se fosse menos pretensioso.
Ao longo desta review faixa a faixa, deixaremos mais claros nossos motivos para tal análise. Então, sem mais delongas, confiram "Love Lust Faith + Dreams" pelos olhos do Rock Collective:
1) "Birth"
Como o álbum tem por tendência mostrar a evolução da banda, nada mais justo que seja pelo nascimento, né? Então, "Birth" se encarrega e muito bem disso. Soando quase como um ato cinematográfico, nos dá uma falsa expectativa por conta de sua excelente forma de iniciar a nova era de Jared Leto e sua trupe, com uma nova sonoridade já bem perceptível, o que por hora, não quer dizer, que seja boa ou ruim. Com uma voz feminina ao fundo repetindo aleatoriamente a palavra "love", temos contornos épicos, cercados de uma marcha orquestrada, tambores e vários elementos eletrônicos, enquanto Leto solta poucas, porém valiosas palavras apresentando o enredo do álbum: "Eu vou salvá-lo de si mesmo, o tempo vai mudar tudo sobre o inferno".
Dando seguimento à temática apresentada na primeira faixa, o que temos aqui é uma canção passeando pelo rock alternativo, que poderia muito bem ter saído de "This is War", faixa-título do álbum anterior. É legal em partes, porém, ao menos pra mim, soa bem descartável, levando-se em conta o que eles são capazes. Falando sobre dilemas constantes da humanidade (coisa que Leto ama), o da vez é entre a luxúria e a fé, combinação quase que excludente, mas que aqui, soa explosiva: "Esta é uma luta até a morte de nossa santa guerra. Um novo romance, uma meretriz troiana (...)". É quase um grito de guerra, enérgico e repetido em coro: "Nós vamos, nós vamos, nós vamos nos erguer novamente".
3) "Up in the Air"
Seguindo a linha de experimentações às quais tanto queriam testar nesse CD, aqui vemos a primeira e impactante delas. Apresentada como primeiro single, "Up in the Air" surpreendeu muito àqueles acostumados com o lado mais dark deles. O que temos aqui, é uma mudança sonora chocante, tirando a banda da vertente rock 'n' roll e nos entregando algo muito mais eletrônico, radiofônico, com arranjos em piano, tambores, coros e uma guitarra em ritmo fraquinho, onde Jared canta sobre sentir-se em confusão mental por um relacionamento que não deu certo e só mágoas ficaram: "Você foi o amor da minha vida, a escuridão, a luz. Este é um retrato que torturou você e eu. Esse é o, esse é o, esse é o fim". No geral, a canção é bem esperançosa. Só não entendo sua escolha como primeiro single e que muito menos seja tão maravilhosa como pintam.
4) "City of Angels"
Uma balada rock mais do mesmo, assim podemos definir a quarta faixa de "Love Lust Faith + Dreams". Iniciando com um agradável arranjo de sintetizadores, o que temos aqui, é um clichê dos tempos de vivência em LA (cidade onde a banda se formou). Não trata de apresentar nenhuma novidade, por isso do clichê. Onde o maior de todos, é baixar a Avril Lavigne interior do Jared Leto e julgar digno cantar sobre ter dezessete anos e sair arrumando confusão com os outros hahaha. Até gosto de vocês, mas desculpa, isso soa ridículo. Fora o que temos de benefícios e malefícios (dependendo da ótica) do que reserva Hollywood: "A minha vida inteira eu nunca estive presente. Sou apenas um fantasma fugindo do medo. Aqui nossos sonhos não são feitos, eles vencem". Continuando a reverenciar a cidade natal mais à frente: "Uma avenida de esperança e sonhos. Ruas feitas de desejo. Perdido na cidade dos anjos, lá no conforto dos estranhos". Soa poético e, de fato, é. Só que nada além do que qualquer outro cantor saído de lá já não tenha cantado por aí.
5) "The Race"
Com a melhor introdução de todo álbum, temos mais uma canção flertando com o eletrônico (figura mais que presente aqui) ao longo de toda sua execução, letra otimista e inspiradora sobre não desistir: "Você salvou minha vida com sangue e através de sacrifício. As lições que eu aprendi, te prometo que eu nunca mais direi, nunca mais. Não, nunca mais". Se tivesse que apostar num próximo single, ela seria a canção mais segura.
6) "End of all Days"
A pseudo-balada do álbum, assemelha-se um pouco a "Hurricane", acompanhada de um piano melodicamente posto em cima de uma voz ascendente de Leto, progredindo com outros elementos, dando os tons mais intensos e épicos que o 30 Seconds to Mars nos acostumou ao longo dos anos e que aqui, faziam-se indiferentes até então. É uma das que se salvam em todo o álbum. Até mesmo pela semelhança, se gostou de "Hurricane", facilmente se sentirá em casa aqui.
7) "Pyres of Varanasi"
Outro grande barato encontra-se aqui. Talvez seja das experimentações, a mais acertada de todo o álbum. Surpreende a começar pelo longo tempo de intro, que dão ares cinematográficos semelhantes à primeira, cercada de uma batida eletrônica + orquestra e, apesar de dar pouca vez aos vocais de Leto, consegue sobressair à chatice dos outros arranjos eletrônicos empregados aqui, mantendo-se muito agradável ao longo de seus 3 minutos de duração. Belo acerto.
8) "Bright Lights"
Seguindo a nova fase experimental, somos apresentados a um flerte indie-pop com levadas rock. Comovente e inspiradora, salve-se também em meio às novidades. Liricamente, ele quer que analisemos um recomeço em outra cidade, no caso, uma grande cidade, cercada de sonhos, dúvidas e incerteza: "Luzes brilhantes, cidade grande, ela sonha com o amor. Luzes brilhantes, cidade grande, ele vive para correr". Os vocais contidos de Jared na faixa são bem agradáveis, puros e com contornos coloridos. Em momentos, chego a imaginar Bono Vox cantando isso no U2 e, sim, é um elogio e tanto.
9) "Do or Die"
É mais uma faixa com a mão pesada nos arranjos eletrônicos, porém, esta é um meio-termo entre o lado rock e o agora pop do 30 Seconds to Mars. Enérgica e cativante, possui um coro que funcionaria muito bem em performances ao vivo: "E a história continua! Continua! Continua! É assim que a história continua, é assim que a história continua". Pede Leto, enquanto me pergunto se devo acatar ou não o pedido com esse álbum.
10) "Convergence"
Curtinha e composta pelo baterista Shannon Leto, funciona bem para o álbum. Arrisco na pedância de dizer que, caso fosse o executivo responsável pelo projeto, teria deixado esta canção como seu encerramento. É uma faixa calma, sonhadora e melhor que a última.
11) "Northern Lights"
De longe, é o melhor trabalho vocal do Jared em todo álbum e outro ótimo acerto experimental. Não é novidade para ninguém o sentimento que ele põe nas canções (que há em várias no "Love Lust Faith + Dreams"), mas não com essa intensidade vocal. Liricamente ela pode assustar, mas durante o refrão, nos leva a simplesmente sonhar: "Nós nadávamos entre a aurora boreal e nos escondíamos na beirada da noite, esperando o amanhecer chegar. E cantávamos uma canção para salvar a todos nós", o que é brilhante, principalmente se levamos em conta que esta é uma das faixas mais diferentes já feita por eles e, também, é a que mais pode agradar os antigos fãs da banda por sua atmosfera mais densa.
12) "Depuis Le Début"
Encerrando o álbum temos a faixa com o título em francês, que significa "desde o princípio". Não entendo o porquê dessa escolha como encerramento. Tá, há uma clara intenção em ser épico com sua divisão em três partes: Jared sendo acústico na primeira, cantando morbidamente que "Haverá sangue"; algo mais crescente, eletrônico e épico na segunda; e uma parte mais calma, pondo pra dormir ao som de uma canção de ninar na terceira variante. Mas não fica nada legal a canção aqui, parece meio fora de contexto. Numa dessas, "Convergence" seria sem dúvidas a melhor alternativa de encerramento.
CONCLUINDO
Este não é nem de longe (como vi várias pessoas por aí dizerem) o melhor álbum do 30 Seconds to Mars já feito. Lógico, há momentos bons, surpreendentes e que relembram velhos tempos, vide "Northern Lights" e "End of all Days". Ou então, experimentações bem-sucedidas, como em "Pyres of Varanasi", "Convergence" e "Bright Lights". Vale ressaltar também, que Jared Leto continua um bom vocalista, mas que agora testa outros tons de sua voz. O grande problema aqui é outro: o de justamente achar que é mais do que realmente é. Daí, tem essas terríveis ideias de experimentar coisas que são completamente desnecessárias. O que é esse ser feminino aleatoriamente falando "Love", "Lust", "Faith", "Dreams" ao longo do álbum? Me respondam, pra quê isso? Outra coisa que começa a me incomodar, é a questão da troca de guitarras, baixo e outros elementos mais rock 'n' roll que os marcaram, por sintetizadores e no caso do novo álbum, a eletrônica. Não que ache ruim alguém se reinventar, muito pelo contrário, adoro isso. O problema em relação ao 30 Seconds to Mars, é que soa arrogante e muito pretensioso para algo que no final das contas, não passa de um emaranhado pedante e superficialmente inclinado ao pop, com composições clichês, genéricas, muito bem maquiadas e estilisticamente ruins.
No mais, começo a me questionar se continuarei acompanhando a banda daqui mais uns anos, mas logo penso pelo lado positivo: enquanto musicalmente eles declinam, mais vídeos cinematográficos, dirigidos por Bartholomew Cubbins (pseudônimo de Jared Leto) — e ultimamente, a melhor coisa deles pra mim — continuarão a ser produzidos. O que já não é nada mau.